Acupuntura pediátrica
Quando se pensa em acupuntura logo vêm à cabeça milhões de agulhas sendo espetadas no corpo. E, claro, nenhuma mãe gosta de imaginar seu filho submetido a um tratamento assim. Porém, esse pensamento não faz sentido. Uma pesquisa realizada pela Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, e publicada na revista científica Pediatrics aponta que a acupuntura pediátrica é segura, eficaz e apenas uma em cada dez crianças apresentou efeitos colaterais.
No país, o método é comum e, segundo dados do relatório de Estatísticas de Saúde Nacional, mais de 150 mil crianças americanas são tratadas com acupuntura. De acordo com um dos coordenadores da pesquisa, o acupunturista e diretor do Centro de Dor e Cuidados Paliativos do Hospital da Criança de Minnesota, Stefan Friedrichsdorf, os principais problemas que podem surgir após as sessões são pequenos, como hematomas, dormência nos locais das aplicações e náuseas. Mas, afinal, como funciona?
Mapa de pontos
Originada na China há mais de 4 mil anos, a técnica estimula as terminações nervosas do corpo e tem o poder de melhorar o funcionamento do sistema imunológico de qualquer ser humano. A finalidade da acupuntura pediátrica é diminuir a incidência de doenças e infecções muito comuns na infância. “O ideal seria o indivíduo iniciar o tratamento desde cedo já como prevenção”, diz a professora Renata Alqualo Costa de Moraes, coordenadora do curso de pós-graduação multiprofissional em acupuntura e Medicina Tradicional Chinesa (MTC) da Universidade da Cidade de São Paulo (Unicid).
Para isso, o corpo é mapeado e dividido em diversos pontos específicos, chamados de meridianos, nos quais as terminações nervosas podem ser estimuladas e, assim, acabam por liberar substâncias que atuam diretamente no sistema nervoso central, melhorando o funcionamento do sistema imunológico. “Quando qualquer pessoa é agredida, o sistema nervoso central dá uma resposta de defesa. Assim, o cérebro entende que o estímulo da acupuntura é uma agressão e libera as substâncias referentes à defesa do corpo”, explica a doutora Aparecida Enomoto, graduada em MTC e especializada em acupuntura pela Universidade de Medicina Tradicional de Beijin. Ela ressalta que na infância a técnica funciona como forma de prevenção, surtindo efeito no alívio das cólicas, do estresse e das dores.
Tratamentos de problemas como fazer xixi na cama (enurese noturna), distúrbios do sono, enxaqueca e também para transtornos respiratórios, como asma, bronquite e rinite estão entre os que mais surtem efeito. “As indicações são as mesmas que para os adultos, já que a acupuntura atua no sistema imunológico. As diferenças são, principalmente, os métodos adotados”, ressalta.
Xô, agulhas!
Diferentemente das técnicas utilizadas em adultos, nas crianças de até 7 anos de idade a acupuntura é feita sem o uso de agulhas. Sim, elas passam longe do corpo dos pequenos e, para substituí-las, existem materiais e técnicas tão eficazes quanto. “Não se recomenda acupuntura para crianças muito pequenas, pois a agulha assusta. Antes dessa faixa etária, utiliza-se apenas a auriculoterapia com sementes de mostarda ou bolinhas folhadas a prata e ouro colocadas na coluna – bem fora do alcance das mãos. “Cada uma delas têm um efeito e isso vai depender do paciente, mas, de modo geral, os metais nobres têm ação mais eficaz”, indica. Para saber qual o melhor tratamento, é feita uma primeira avaliação no pulso da criança. Os chineses descobriram que ali é possível o acupunturista descobrir quais os procedimentos técnicos que devem ser adotados nos meridianos, garantindo melhor resultado e adaptação enérgica do paciente às mudanças externas, como de clima e de localização, por exemplo.
Se no Brasil o procedimento é pouco adotado na infância, na China é quase obrigatório para as mamães. Mesmo sem diagnósticos, elas preferem prevenir a remediar, e os bebês ainda recém-nascidos recorrem a sessões de acupuntura. A doutora afirma que, apesar de parecer exagerado, o comportamento é comum entre as chinesas, e as próprias mães realizam a acupuntura em seus bebês apenas com a manipulação das mãos e compressão de alguns objetos. “Mas tudo é ensinado previamente e fazemos um acompanhamento mensal”, explica Aparecida.
O bom profissional
Em 2011, a eficácia da acupuntura na cura de doenças foi reconhecida pelo Conselho Nacional de Medicina, porém não existe um registro oficial nem avaliação formal dos profissionais. E nada valerá se o tratamento não for realizado por um bom profissional. “Oriento que a mãe solicite a comprovação da especialidade e sua procedência. Também é importante que o profissional seja graduado na área da saúde”, diz Renata. Pesquise sobre ele não só na internet como também em clínicas especializadas e marque uma consulta antes de iniciar o tratamento. Também vale a pena verificar se é filiado a sindicatos do setor. E jamais se esqueça de conversar com o pediatra de seu filho: a opinião dele é essencial.