As atitudes dos pais e o reflexo no comportamento das crianças
Os pais dizem ao filho que é feio mentir. O telefone toca, a criança atende e olha para os pais, eles fazem gestos para dizer que não estão presentes, e o pequeno acaba mentindo para quem está do outro lado da linha. Por mais simples que seja a mentira, dessa forma a criança assimila “na prática” que pode mentir.
Por isso, especialistas chamam atenção para a importância do exemplo dado pelos pais, responsáveis e até pelos professores. Esses são os pilares que ajudam na formação da criança como cidadã. É possível dizer que a noção de cidadania, em um primeiro momento, está dividida entre os ensinamentos dos pais e os da escola, afinal a instituição serve como complemento para a assimilação dos valores.
Os valores familiares
Mesmo que cada sociedade tenha culturas diferentes, algumas atitudes são universais, inclusive os conceitos de certo e errado. “A construção desses conceitos precisa ser feita, desde a barriga da mãe, com muito amor e dedicação. Aprender a dizer não na hora certa também é importante; mesmo sendo um bebê, ele já tem o entendimento”, explica Tatiana Gola, coordenadora do Colégio Magister, em São Paulo.
Pode parecer incrível, mas as atitudes dos pais quando uma criança nasce já ensinam algumas coisas, como defende a socióloga e psicóloga clínica Helena Maffei Cruz. “Para a criança, todas as atitudes tomadas por seus cuidadores possuem significados. A criança chora e é pega no colo: nesse momento são transmitidas percepções a respeito do mundo. Ela nota que usando a linguagem do choro será atendida e os pais entendem que o choro sinaliza desconforto, seja fome, seja sono ou dores”, expõe Helena.
Aos pais que têm dúvidas sobre quais valores passar para os filhos a pedagoga portuguesa Esther García Schmah indica fazer a seguinte pergunta: “Que tipo de pessoa gostaria que o meu filho fosse?”. E, a partir daí, trabalhar os valores.
Mãe de Alice, de 6 anos, e Lucas, de 3, Mariana Zanotto, autora do blog “Pequeno Guia Prático para Mães sem Prática”, acredita que os pais transmitem desde o nascimento e com um método próprio os valores do que é certo e errado, de acordo com os próprios ensinamentos familiares.
“Ensino primeiro por meio de exemplos, depois pelo diálogo, que vai se tornando mais elaborado de acordo com o crescimento da criança. Procuro ser sempre coerente. Se considerei algo errado ontem, ele vai continuar sendo amanhã. O que muda é a compreensão que cobro dos meus filhos em cada momento de suas vidas. Com a mais velha sempre explico o porquê, já com o de 3 anos não pode e ponto”, completa a blogueira.
Dupla perfeita: diálogo e ação
Não basta sentar com a criança e conversar a respeito das atitudes; embora seja importante, pois ela só irá entender e absorver quando tiver um exemplo. E ninguém melhor que os pais, que são considerados referências, para ajudar nessa “missão”.
“O discurso é vazio se não vem seguido de atitude. Eles percebem isso muito cedo e até falam na nossa cara quando convém”, conta Mariana. Ainda assim, a mamãe admite cometer erros cotidianos, como falar para os filhos comerem frutas enquanto ela come doces.
Na visão da coordenadora Tatiana, as famílias estão deixando de ter filhos pensando só na conta bancária. E, embora tenham condições de arcar com os gastos, esquecem o mais importante: valores para construir um ser humano. “O amor é o alicerce. Formar ser humano dá muito trabalho, é preciso reflexão e diálogo, olhar nos olhos e encontrar tempo para ser mãe e para ser pai”, ressalta Tatiana.
Papel da escola
É importante que os pais escolham uma instituição apta a compartilhar os mesmos ideais e valores de sua família. Buscar referências, visitar e conhecer os pais dos alunos faz parte do processo para a escolha da escola.
“Escolher uma escola que acredita nos mesmos valores da família ajuda a não criar conflitos na cabeça da criança. Mas também não dá para terceirizar a formação de valores. Deve existir uma sintonia entre os pais e a instituição de ensino”, defende Tatiana. No colégio em que trabalha, há uma atividade de reflexão na qual as crianças leem jornais, fazem pesquisas e selecionam manchetes, depois refletem sobre qual atitude se deve ter para que isso não aconteça no futuro.
Na escola o coletivo se sobrepõe ao individual, e os valores que devem reger a sociedade são introduzidos desde cedo, através de regras simples, como esperar a vez, não tirar o brinquedo da mão do colega e colaborar nas atividades grupais. “Por atender muitas crianças a escola precisa de regras mais claras e duradouras. Em casa, pode-se negociar a hora de dormir, dependendo do dia, já na escola as regras precisam ser cumpridas”, explica Helena Maffei.
Escola, amigos, família, livros, filmes e televisão. Tudo ajuda a formar o caráter de uma criança, seja para o bem, seja para o mal. Então é claro que os pais vão tentar aumentar o “para o bem” e minimizar o “para o mal”. Bons exemplos e sintonia entre todos os pilares da formação são as chaves para formar bons cidadãos.