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Brincar é importante


 

Assim que nasce, a criança suga o seio da mãe como uma forma instintiva de preservação da espécie. Mesmo depois de satisfeito, continuará sugando seus dedos, seu polegar e, algumas vezes, leva o punho à boca, na intenção de transcender a fome e sentir prazer, que será tão vital quanto a fome ou o sono.

Este prazer só será conseguido através da relação desta criança com seu meio ambiente, o que quer dizer que seu desenvolvimento emocional dependerá do comportamento do ambiente em que vive. Seu mundo restringe-se ao seio da mãe e tudo aquilo que está a sua volta é considerado como uma continuação do seu próprio corpo. Essa manifestação de onipotência, natural nessa fase da vida, será dissipada em breve, quando sofrerá importantes desilusões.

Uma mãe atenta ou alguém que assuma suas funções, poderá ajudar o bebê a transpor suas primeiras angústias. Carregá-lo no colo, tocá-lo dos pés à cabeça, mostrar-lhe de forma natural e carinhosa os limites do seu corpo, para que mais tarde, quando os limites da vida se revelarem insuportáveis, em algum lugar de sua memória esteja registrada uma experiência positiva, que o motivará a continuar.

Existe uma sequência de atividades que permite ao bebê reconhecer aquilo que não faz parte do seu corpo, mas pertence à realidade externa. Começa pelo polegar na boca, que logo é substituído por uma fraldinha, chupeta ou um brinquedo propriamente dito.

Um objeto macio, escolhido pelo bebê para se defender de sua própria ansiedade, é o chamado "objeto transacional". Os pais sabem muito bem reconhecer o seu valor, permitindo que o pequeno o carregue para todo canto! Deixam que fique sujo ou mal cheiroso, pois, se o lavarem, poderão gerar uma ruptura de continuidade na experiência do bebê.

Contudo, é fundamental evitar que os padrões estabelecidos na tenra infância persistam, de modo que aquele "objeto macio" original continue a ser absolutamente necessário na hora de dormir, em momentos de solidão, ou quando um humor depressivo toma conta da criança. A necessidade de um objeto específico, ou de um padrão que começou em data muito primitiva, pode reaparecer numa idade posterior, quando a privação vem à tona.

O fenômeno é considerado saudável e muito necessário, quando ocorre por volta dos seis meses de idade, e depois amplia-se naturalmente para outros objetos e para outros âmbitos de interesse da criança, conforme ela vai crescendo e deixando para trás tais necessidades.

Aí está a origem do comportamento futuro do brincar em uma criança. É brincando que a criança supera suas experiências mais desagradáveis. Freud descreveu de que forma um garotinho de 18 meses conseguiu suplantar a ausência momentânea da mãe, brincando com um carretel amarrado a um barbante. O menino atirava o carretel longe, até fazê-lo desaparecer, para em seguida puxá-lo de volta, fazendo-o reaparecer. Simulava assim o comportamento da mãe que sumia para depois aparecer de novo, só que dessa vez era ele quem controlava a situação. A experiência passiva foi convertida num desempenho ativo, transformando a dor em prazer, dando às experiências originalmente dolorosas um final feliz.

A cultura então começa a tomar o seu lugar. Cabe aos pais facilitarem este movimento da criança, com a sabedoria de que o jovem ser humano deve ser empurrado para fora da infância e "jogado na meninice", para que ambos possam "crescer".

"E como isso acontece?", perguntam os pais. Por meio do brincar, devido a isso o brincar é importante. Concedendo tempo e desejo, para juntos criarem alternativas melhores para todos!

O início da criatividade estará diretamente relacionado com a qualidade provinda do seu ambiente, e do tipo de relação que este bebê teve com as pessoas que ama, nesta fase primitiva de seu desenvolvimento.

A definição de criatividade, num contexto geral, não se encerra em uma criação bem sucedida, mas se liga ao colorido de toda a atitude relacionada ao externo.

Ela relaciona-se ao "estar vivo", e pode subentender uma pintura, uma foto, um jardim, um penteado, uma comida gostosa, algo que se faz presente quando uma pessoa se inclina a realizar as coisas de maneira prazerosa.

É no brincar, e talvez apenas no brincar, que a criança ou o adulto flui sua liberdade de criação, sente que a vida é digna de ser vivida e mais uma vez por isso que o brincar é importante. Em contraste, existe um relacionamento de submissão com a realidade externa, onde o mundo, em todos os seus pormenores, é reconhecido apenas como algo a se "adaptar". A submissão traz consigo um sentido de inutilidade e faz aflorar o sentimento de que nada importa, e de que não vale a pena viver.

No início da vida os pais são a única fonte de sustento físico e psicológico de uma criança que, no tempo certo, começará a ser "tentada" a sair do círculo limitado que a cerca.

As crianças se sentem totalmente derrotadas, quando os companheiros de brincadeiras, ou irmãos mais velhos, conseguem fazer as coisas melhor que elas. Com um pouco de paciência, pais cuidadosos podem reconhecer o valor das primeiras tentativas de aproximação com um mundo frustrante e desconhecido, e assim dedicar mais tempo para brincar com seus filhos, estimular e participar de suas fantasias, sentar para rir junto com eles, despertando a esperança neles próprios e na vida futura, por isso brincar é importante.

Dra. Evelyn Pryzant
Psicoterapeuta