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Educação dos filhos: ciúme entre irmãos

Um dia desses recebi no consultório um jovem casal que tinha 2 filhos, um de 3 anos e um bebê de 5 meses de idade. Interrogados sobre o que os trazia ali, e em que eu poderia ajudá-los, pai e mãe me disseram que estavam muito preocupados com o comportamento agressivo do filho mais velho, em relação ao irmão menor.

Eles não sabiam mais o que fazer para conter a raiva e o ciúme do primogênito, que ameaçava jogar o irmãozinho na lata de lixo e, sempre que conseguia subir no berço do pequeno, brincava de enfiar os dedinhos nos olhos dele. Deveriam castigá-lo?

No decorrer da conversa, o casal declarou que estava se sentindo muito culpado com o sofrimento de seu filho, pois tinha discutido muito a vinda de um segundo bebê. Além disso, havia também os ressentimentos de cada um, com a nova divisão de afeto. Se por um lado a mãe não conseguia atender a todas as demandas de seu filho maior, sentindo-se culpada e muito cansada, por outro, o marido muitas vezes se sentia com pouco espaço na relação com sua esposa.

Posso dizer que esse caso é bastante comum, porém, delicado, revelando reações e sentimentos humanos tais como mágoa, raiva, insegurança, rejeição, ciúme e tantos outros.

Como se define o sentimento de ciúme?

É difícil definir o ciúme, pois o ciúme não inclui apenas uma única emoção, mas uma combinação delas.

Muitos pais entendem que o ciúme, assim como a raiva e a inveja, são sentimentos "pouco nobres". Muitos de nós tivemos uma educação que dizia que sentir raiva dos nossos irmãos era feio e errado, e que devíamos amá-los em quaisquer circunstâncias, como se o amor e a raiva fossem sentimentos opostos ou incompatíveis, e que a existência de cada um excluiria a presença do outro.

É fundamental que pais e mães possam repensar as suas experiências infantis como filhos e como irmãos, pois, muitas vezes, os seus receios e ansiedades com seus filhos estão ancorados em como eles próprios vivenciaram o seu ciúme e outros sentimentos.

A função do irmão - o lado bom da história

Durante a vida, os pais oferecem aos filhos carinho e afeto mas, para que estes cresçam, são necessários também certos limites, mesmo que isso os desagrade muito.

Assim é com os irmãos. Se por um lado a convivência mútua propicia experiências e momentos de intensa rivalidade, competição e agressão, que servem para prepará-los para as dificuldades que a vida em sociedade apresenta, por outro nada substitui a incrível experiência de compartilharem as brincadeiras e outros momentos de prazer, e de poderem desenvolver atitudes de cooperação, generosidade e solidariedade na relação com os irmãos.

O que pais e mães podem fazer, com relação ao sentimento de ciúme entre irmãos:

Usar palavras firmes e carinhosas: quando um filho manifestar o desejo de "fazer o seu irmãozinho desaparecer", pai e mãe podem dizer firme e claramente que entendem o seu sentimento de raiva mas que, se o "caçula" realmente desaparecesse, ficariam muito tristes, pois o amam muito, aliás, os dois.

Atenção especial: ao perceber que o seu filho maior está mais seguro, o casal pode reservar-lhe um dia de total atenção. Beijos e abraços, aliados à lembrança do dia em que ele nasceu, por meio de fotos inclusive, e a felicidade que todos sentiram, funciona bem.

Revezamento dos pais: muitas vezes ocorre que, diante da sobrecarga da mulher, o casal decide que o pai irá tomar conta em tempo integral do primeiro filho, e a mulher passa a se ocupar quase que exclusivamente do bebê recém-chegado. Essa divisão não parece muito justa, já que cada um dos filhos estaria perdendo 100% do contato com um de seus pais, o que é especialmente importante para o primogênito, que se sentirá abandonado pela mãe. Para lidar com o ciúme entre irmãos o ideal é a criação de tempo e espaço onde pai e mãe se ocupassem dos dois.

Brincadeira compartilhada: os pais que puderem perceber quando as crianças estão juntas, e o que gostam de fazer, têm a chance de oferecer oportunidades para estimulá-las a brincarem juntas, e com isso construir o seu relacionamento.

Evitar comparações: para que esteja assegurada a autoestima dos dois filhos é preciso, então, elogiar e falar das habilidades diferentes que cada um tem.

Sintonia dos pais com os sentimentos de seu filho: quando o seu filho mais velho manifestar suas emoções de tristeza, medo, raiva, orgulho ou alegria, ajude-o a falar sobre elas e a aceitá-las. Ele se sentirá entendido e amado.

Os comportamentos de regressão são normais: os pais podem oferecer à criança atividades com argila, tintas e massinha. Esses materiais podem ser de grande ajuda para os pequenos manifestarem os seus sentimentos mais agressivos, e seus desejos de regressão.

Não existe ser humano que não tenha ciúme, ou que não seja alvo e instrumento do ciúme de outros seres humanos. Isso é inevitável.

Também podemos concluir que o aprendizado que envolve o abrir mão do desejo de exclusividade que todo ser humano almeja é, sem dúvida, uma grande conquista para viver de forma saudável os relacionamentos durante a vida.

Dra. Mônica Mlynarz
Tepeuta Individual e Familiar