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Educação dos filhos: disciplina

 

Com razão, muitos pais se preocupam com a melhor maneira de disciplinar seus filhos, como lhes dar senso de responsabilidade em suas ações e reações. Quanto menor a criança, mais ela admira seus pais. Na verdade, não lhe resta alternativa, ela precisa acreditar na perfeição deles para sentir-se protegida. Na medida em que cresce, não irá admirar seus pais com a mesma ingenuidade; no círculo cada vez mais amplo de suas relações, eles parecerão cada vez menos perfeitos.

Começam as críticas, palavrões, a rebeldia e o descontrole emocional. São escândalos que fazem a casa e a rua toda tremer. Nesses momentos o que é muito comum encontrar são pais que estão mais prontos a criticar e sermão do que para confiar em sua própria eficácia como modelos. Para a criança, o que fica é que o pai está mais preocupado com seu comportamento escandaloso do que interessado na causa da irritação que a levou ao descontrole.

A aquisição da autodisciplina é um processo contínuo, mas lento, de muitos passos pequenos e muitas recaídas. A paciência é uma virtude quieta, que não causa impressão tão profunda e imediata quanto a perda de paciência. É preciso um número infinito de exemplos paternos de autocontrole e paciência para ensinar os valores desse tipo de comportamento e influenciar a criança. Pais que dizem aos filhos para serem disciplinados mas não demonstram possuir disciplina são simplesmente ineficazes. Tudo depende do que fazemos e não do que dizemos.

Um pai que se respeita e está seguro de si, não se sentirá ameaçado em sua autoridade e aceitará que seu filho, por vezes, mostre falta de respeito. Ele sabe que se isso acontece é devido à imaturidade do julgamento que o tempo e a experiência corrigirão.

Paciência X castigos

Um pai que grita por respeito, apenas revela sua insegurança de que isso lhe será dado naturalmente. Um pai inseguro é suficiente para fazer a criança transformar-se num adulto inseguro. Se pudéssemos nos lembrar de nossas próprias lutas quando crianças, como éramos indisciplinados e como foi duro agir contra a nossa vontade, teríamos mais paciência e compreensão, teríamos em mente que, na melhor das hipóteses, eles só são capazes de adquirir disciplina muito lentamente e contra uma grande resistência interior.

Corrigir uma criança, para não falar em ordená-la o que fazer, também tem o efeito de diminuir seu respeito próprio. Mesmo que ela obedeça, a formação de uma personalidade independente não será encorajada, pois quando os aspectos importantes da vida e do comportamento de uma criança são regulados por outros, ela não sentirá necessidade de aprender a controlar-se, já que outros fazem isso por ela.

Há um mundo de diferença entre adquirir disciplina por identificação com aqueles que se admira e tê-la imposta autoritariamente ou dolorosamente. A identificação é o resultado de amar e admirar os pais, não de ser castigado por eles. O que o castigo provoca é resistência. Mesmo que uma criança saiba que está errada, sente que deve haver um modo melhor de ser corrigida do que através de castigos físicos ou mentais.

A maioria das crianças ressente-se do castigo e, quanto mais amam seus pais, mais se sentem insultadas por eles e desapontadas. Pior, esse ressentimento poderá surgir mais tarde sob a forma de comportamento desregrado. Quanto mais severo o castigo, mais dissimulada a criança se tornará. Assim, a criança que era antes aberta em suas atitudes aprende a escondê-las.

O que podemos fazer é buscar consistência em nossa personalidade e ações. Se nosso empenho é firme, nossos traços desejáveis serão tão atraentes aos olhos de nosso filho que ele se identificará fortemente com eles. Mais tarde, à medida que crescer, julgará por si mesmo que características dos pais considera desejáveis e decidirá aquelas com que se identificará.

É muito melhor dizer a uma criança que temos certeza de que não teria se comportado mal se soubesse que estava fazendo algo errado, e mesmo que desaprovemos ou proibamos o que fez, compreendemos que ela tem seus motivos. Tal atitude dará margem ao diálogo e essa aproximação positiva fará com que mais facilmente nos ouça com boa vontade, ainda que tenha que renunciar a alguma coisa que gostaria muito de fazer.

No entanto, se o levarmos a acreditar que não consideramos suas razões dignas de nossa reflexão, não importa quais sejam elas, ficará convicto de que damos crédito apenas à nossa própria maneira de pensar, jamais à dele quando não está de acordo com a nossa. Nesse caso, pode ceder, mas se tornará mais obstinado.

Estimular a criança a pensar

Um filho raramente se convence de que alguma coisa está errada porque seus pais dizem que está. Ela se torna errada para ele porque quer ser amado e a melhor maneira de ser amado, a curto prazo, é fazer o que os pais aprovam e, a longo prazo, ser como eles, identificando-se com seus valores. Essa identificação é, assim, o resultado de amar e admirar os pais, e não de ser castigado por eles.

Afinal, o objetivo de um pai na área da disciplina deve ser aumentar o amor-próprio da criança e tornar esse sentimento tão forte que impedirá, pela vida toda, que o jovem aja erradamente.

Não pretendo sugerir, nem por um momento, que os pais não repreendam um filho ou que nunca se irritem com ele. Até mesmo o mais bondoso e mais bem intencionado pai ficará exasperado algumas vezes. A diferença entre o pai bastante bom e o não tão bom, em tais situações, é que o primeiro entende que sua irritação tem mais a ver com ele mesmo do que com o que a criança fez. O segundo acredita que sua irritação é culpa exclusiva do filho e que tem todo o direito de agir influenciado por ela.

Se castigamos a criança, isso pode diminuir os efeitos de sua angústia e ela não precisará mais se sentir culpada em relação ao que fez, uma vez que aos olhos do pai, pagou a pena. Ambos, pai e filho, livres das emoções negativas que existiam entre eles, podem sentir que a paz foi restabelecida, quando, na verdade, o que houve foi apenas uma descarga emocional e não um aprendizado de fato.

Melhor seria tirar a criança por pouco tempo da nossa presença. Estimulá-la a pensar em suas atitudes e ganharmos tempo para elaborar melhor nossas emoções também. A distância física representa a distância emocional e esse é um símbolo que fala ao consciente e ao inconsciente da criança ao mesmo tempo, por isso é tão eficiente.

Pais honestos e abertos

Temos todo o direito de nos decepcionar, mas nossa decepção não nos dá o direito de castigar. Faz parte da natureza humana ressentir-se de qualquer pessoa que tenha o poder de nos castigar. Somente o exemplo de nosso próprio bom comportamento induzirá nossos filhos a fazer desse comportamento parte de sua personalidade. E devemos ser igualmente honestos e abertos a respeito de nossas emoções, devemos acreditar que nosso amor tem seu melhor efeito através das maneiras pelas quais reagimos às carências e ajudamos nossos filhos em suas dificuldades.

Isso é apenas parte do que significa ser autêntico, não fingindo ser melhores do que somos, mas lutando dentro de nossas possibilidades para vivermos bem a vida, de maneira que as crianças, impressionadas pelas recompensas de viver uma boa vida, oportunamente desejem fazer igual. Mesmo porque, até hoje, nunca conheci uma mãe que não seja, mesmo que de vez em quando, digamos, um pouquinho, chata.

Evelyn Pryzant
Psicóloga Clínica e Grupanalista