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Estresse infantil

 


 

 

É uma avalanche de informações diárias de todos os cantos do planeta entrando em nossas casas, em nossos escritórios, em nossa vida. São tantas as novidades, os avanços tecnológicos e o desenvolvimento do conhecimento humano, como dar conta de tudo isso? Como orientar os nossos filhos para que tirem o melhor de suas capacidades e sejam felizes? Como ajudá-los a não se tornarem crianças, adolescentes ou adultos estressados?

 

A modernidade trouxe consigo aspectos positivos, contudo, também trouxe mais pressão, cobranças, agitação, competitividade e menos cooperação e solidariedade.

Como não se deixar engolir por tudo isso e levar uma vida saudável sem exageros de ansiedade e estresse?

Acredito ser essa uma tarefa um tanto difícil, mas não impossível.
Chegou a hora de organizarmos o nosso dia a dia, assim como o de nossos filhos. São tantas as possibilidades de atividades que podemos programar.

"Não é bom começar o inglês desde já? E a natação, o judô, as aulas de violão?", perguntam os pais mais aflitos.

"Quanto mais tempo fora de casa, menos contato com a TV e aqueles filmes violentos", dizem os outros.

Como dosar a atividade física e intelectual e não esquecer que existe também o lazer, o brincar, atividades fundamentais para o desenvolvimento emocional e social da criança.

Às vezes, é com as melhores das intenções que os pais preenchem integralmente o dia de seu filho. São tantas as tarefas e horários a cumprir, que não sobra tempo para ele respirar ou para não fazer nada, ou ainda para ficar sozinho com seus brinquedos e fantasias. Afinal, a criatividade, a produção de novas idéias e os pensamentos brilhantes necessitam de espaços vazios para se manifestarem.

A realidade atual

A estrutura familiar moderna tem levado a uma diminuição do tempo de interação entre pais e filhos, empurrando os pais para um sistema de auto cobrança e culpas sem fim, ao mesmo tempo que fazem cada vez mais exigências às crianças, podendo gerar maior ansiedade e estresse.

Com relação a esse aspecto, tenho ficado bastante preocupada ao verificar que algumas escolas, visando é claro, a excelência de seus alunos, vêm programando "vestibulares" para crianças a partir de 4 ou 5 anos, e que, infelizmente, em decorrência disso, pais cada vez mais aflitos estão correndo atrás de escolas preparatórias e aulas particulares.

Sinal dos tempos? Calma lá!!!

Observamos que muitas crianças acabam pagando um preço muito alto, pois se sentem pressionadas a dar apenas resultados positivos para não frustrarem os pais.

É muito importante que os pais estejam atentos às situações de estresse infantil a que seus filhos ficam expostos. Tais situações devem ser necessariamente proporcionais à habilidade, à maturidade, ao estágio de desenvolvimento e à resistência da criança.

Se por um lado não podemos e não devemos proteger os nossos filhos dos problemas e conflitos com os quais vivenciam no dia a dia, por outro não temos o direito de "jogá-los aos leões", sem que antes adquiram estratégias de enfrentamento de uma forma gradual e lógica.

O que é o estresse infantil?

O estresse em geral é uma reação do organismo diante de situações ou muito difíceis ou muito excitantes, que podem ocorrer em qualquer pessoa, independentemente de idade, raça, sexo ou situação socioeconômica.

Em períodos de estresse, a harmonia do organismo fica afetada e cada órgão passa a trabalhar em ritmo diferente dos demais. Se esse estado se prolongar por muito tempo, há uma quebra do equilíbrio interior e um enfraquecimento do organismo e, consequentemente, a manifestação de sintomas e doenças. O estresse infantil é pouquíssimo conhecido, sendo bastante difícil encontrar pesquisas sobre o assunto, tanto no Brasil como no exterior.

A maior parte dos trabalhos sobre o estresse em crianças brasileiras foi desenvolvida na Universidade Católica, em Campinas. Nessas pesquisas verificou-se que toda criança, inevitavelmente, enfrentará inúmeras situações de estresse infantil ainda nos primeiros anos de vida, tais como acidentes, doenças, hospitalizações, nascimento de irmãos, mudanças de casa, escola ou de empregada, além das tensões geradas pela necessidade sempre maior de autocontrole.

Fontes de estresse infantil

Pesquisas revelam que o estresse na criança pode estar relacionado a fatores internos e externos, da mesma forma que ocorre com o adulto.

Os fatores internos referem-se às características de personalidade, pensamentos e atitudes da criança, diante de várias situações que ela precisa enfrentar na vida. Assim sendo, o estresse pode ser criado por ela própria, de acordo com sua maneira de perceber a si e o mundo ao seu redor.

As fontes internas de estresse na criança são: ansiedade, depressão, timidez, desejo de agradar, medo do fracasso e de punição divina, preocupação com mudanças físicas, dúvidas quanto à própria inteligência, interpretações amedrontadoras de eventos simples ou mesmo medo de ser ridicularizada por amigos.

Já as fontes externas de estresse na criança são devidas às mudanças significativas ou constantes, responsabilidades e atividades (o miniexecutivo) em demasia, brigas ou separação dos pais, algumas escolas, morte na família - principalmente de pais ou irmãos - exigência ou rejeição por parte dos colegas, disciplina confusa por parte dos pais, nascimento de irmão, doença e hospitalização, troca de professora ou de escola, pais ou professores estressados, medo de pai alcoólatra e até doença mental dos pais.

Atitudes dos pais que podem prevenir o estresse infantil

Primeiramente, os pais precisam cuidar do seu próprio estresse, para servirem de modelo para os filhos. Se diante de "situações problema", os pais agirem com muita ansiedade, os filhos terão a tendência de repetir os mesmos padrões de comportamento.

Atitudes positivas que envolvam a paciência, o prazer, a alegria de estar com a criança, a aceitação e a forma simples e realista de encarar os desafios do dia a dia, podem incentivar a criança a resolver os problemas e desenvolver a sua autoestima.

É preciso ouvir a criança, não sobrecarregando-a com atividades extracurriculares; escutar com seriedade o que ela tem para dizer sobre o assunto e procurar oferecer atividades que sejam do seu agrado.

Respeitar o ritmo da criança e não fazer comparações - os irmãos são diferentes quanto ao seu ritmo de dormir, comer, aprender, socializar-se e até de caminhar - mesmo que os pais tenham outro modo de agir, também é uma ação indispensável, assim como a escolha cuidadosa da escola em que irá frequentar. É preciso ouvir com atenção as queixas da criança, pois ela pode estar vivendo um problema de fato.

Em caso de conflitos conjugais, é fundamental evitar o envolvimento das crianças, pois muitas vezes elas acabam por se sentirem responsáveis pela situação.

Contudo, é muito importante que não se poupe a criança em demasia; uma criança excessivamente poupada não tem chances de se preparar para o mundo de hoje.

Estimular sua independência é algo fundamental, contanto que se respeite sua etapa de desenvolvimento natural.

Os pais devem evitar que seus filhos acreditem que só são valorizados e amados se tiverem um desempenho perfeito em tudo que fazem. Quanto a esse aspecto, o que tenho observado na clínica é que um dos principais causadores de estresse em crianças é a grande preocupação delas em corresponder às expectativas de sucesso dos seus pais. Desse modo, não atribuem valor à pessoa que são, mas por aquilo que fazem.

Por fim, acredito que os cuidados dos pais com o controle do estresse infantil, juntamente com todos os profissionais que estão envolvidos com a educação das crianças, possa levar a uma sociedade mais produtiva, mais feliz e mais bem adaptada.

Portanto, caros pais, mãos à obra e boa sorte!

Dra. Monica Mlynarz