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Exercícios físicos, quando começar? Entrevista com dr.Turíbio Leite de Barros Neto

 

Apesar das dificuldades que a vida nos grandes centros urbanos impõem, como a sedução do fast food e alimentos industrializados, o cerceamento da atividade física espontânea e a forte concorrência da televisão, games e computador, esse é um investimento com retorno assegurado: a qualidade de vida que os baixinhos terão.

Tudo começa no exemplo dos pais. Para o professor da Escola Paulista de Medicina e fisiologista do Departamento de Futebol do São Paulo, Turíbio Leite de Barros Neto, de nada adianta tentar empurrar alimentos saudáveis ou impor a prática de uma modalidade esportiva muito cedo se os pais não prestam atenção à sua própria dieta e são sedentários.

O dr.Turíbio Leite de Barros Neto afirma que as dúvidas e inseguranças dos pais só serão esclarecidas na medida em que eles ampliarem o leque de informações sobre o melhor para seus filhos. E adotarem para si próprios um modelo saudável de vida.

E, importante, não são apenas conceitos profissionais. Turíbio, aos 51 anos, tem seis filhos. O Daniel tem 26 anos, Luiz Fernando, 22; André, 20; Diego, 19; Gabriela, 15, e Isabela, 12. "Acho que a mensagem ficou."

 

Alô Bebê - Quais as dificuldades básicas enfrentadas hoje pelos pais quando o assunto é assegurar alimentação de qualidade para os filhos?

Turíbio Leite de Barros Neto - A ansiedade de fazer a criança se alimentar dificulta o processo. Muitas vezes, as mães oferecem mais comida do que o filho precisa, especialmente nas idades mais precoces. Quem nunca comeu um aviãozinho? A tendência, com isso, é preparar o filho para ser obeso. A ideia de que o bebê gordinho é mais saudável é uma herança cultural, um conceito equivocado, mas vem mudando. Na verdade, não é necessário empurrar a comida para a criança, ninguém precisa ser distraído para comer. É uma questão de esclarecimento dos pais.

Alô Bebê - E quanto a prática de atividades físicas, o outro elemento para a conquista de uma vida mais saudável?

Turíbio Leite de Barros Neto - Hoje, nos centros urbanos, há um cerceamento da atividade física espontânea. Como brincar de forma ativa se não há muitos espaços para isso? Há algumas décadas, o ambiente era mais livre, assim como o contato com a natureza, o que permitia à criança ser naturalmente mais ativa. Naquela época os hábitos de lazer eram brincadeiras que envolviam a atividade física, as crianças se exercitavam espontaneamente, sem um adulto por perto para necessariamente estabelecer regras. Na atualidade, a criança passa a ser seduzida pela televisão, videogame e computador.

Alô Bebê - O que os pais podem fazer para mudar isso?

Turíbio Leite de Barros Neto - É uma competição desleal. Muitas vezes é cômodo deixar as crianças em frente à televisão, até por questões de segurança. A primeira alternativa que se tem é o exemplo. Se os pais são os primeiros a ficar horas à frente do computador ou da televisão, como exigir que a criança faça diferente? As alternativas para a prática de atividades físicas não são muito diversificadas. Temos parques, academias e clubes poliesportivos, o que pressupõe a necessidade de intervenção do adulto. É importante que os pais estejam tranquilos com relação à sua responsabilidade de possibilitar uma vida saudável aos filhos.

Alô Bebê - O que seria ideal em termos de prática esportiva para uma criança?

Turíbio Leite de Barros Neto - Praticar uma atividade física com a frequência mínima de três vezes por semana durante pelo menos uma hora. Isso não significa necessariamente a prática de um esporte, pode ser brincar no parquinho. Porque se você perguntar para a criança o que ela quer fazer, a resposta vai ser brincar.

Alô Bebê - Pode se dizer que há mitos a esse respeito?

Turíbio Leite de Barros Neto - Sim, muitos mitos. O mais comum é os pais escolherem um esporte para o filho ainda pequeno. Muitas vezes são vaidosos e querem se realizar através dos filhos. Acham que a natação é o mais completo e pronto. De fato, é o esporte mais completo, desde que a criança sinta prazer na sua prática. Outros escolhem o judô, com o argumento de que é um aprendizado de defesa, ou o ballet porque é bonito. Há também o conceito do futuro campeão. Quase sempre o comportamento dos pais mostra um contraste muito grande: nada, ou um investimento excessivo, o que é um crime.

Alô Bebê - Como escolher, então, a melhor atividade física para os filhos?

Turíbio Leite de Barros Neto -Se houver solicitação da criança por determinado esporte, devemos aceitar. A opção deve ser da criança. É muito importante estar atento ao aspecto lúdico. A criança deve se exercitar brincando. Quanto menos rotina e interferência do adulto, melhor. E também ter flexibilidade, permitir à criança mudar de ideia. Se resgatarem suas próprias experiências quando crianças, os pais devem tentar se lembrar: quando alguém o obrigou? Vale dizer que programas de treinamento são abomináveis em idades mais precoces.

Alô Bebê - Existe uma idade ideal para começar a prática regular de um esporte?

Turíbio Leite de Barros Neto - O estímulo para os filhos se engajarem em programas competitivos deve acontecer a partir da puberdade - algo em torno dos 12 anos -, quando a criança está habilitada fisiologicamente para isso. Antes dessa idade, a prática não adequada de um esporte pode comprometer o crescimento e o desenvolvimento. Também é importante não ter compromisso com o desempenho ou performance. Os pais têm a obrigação de preservar a ludicidade em qualquer atividade física que propõem aos filhos.

Alô Bebê - Quais os benefícios de uma alimentação saudável e da prática de atividades físicas para a criança?

Turíbio Leite de Barros Neto - A prevenção de problemas associados a uma vida sedentária e a prevenção da obesidade, um dos grandes fantasmas do milênio. Consequentemente, estaremos prevenindo, nas futuras gerações, doenças como hipertensão, diabetes, colesterol aumentado e doenças crônico degenerativas. O estímulo à saúde física e mental da criança permitirá também maior apoio para se livrar de drogas e maus hábitos.

Alô Bebê - Que dicas o senhor daria para os pais preocupados com essas questões?

Turíbio Leite de Barros Neto - O que funciona é o bom senso. Restrições ou exigências absolutas não resolvem. Ter um filho atleta depende mais de herança genética que de incentivo dos pais. A proposta é querer que a criança seja ativa e, para isso, resgatar a ludicidade das atividades. É preciso mostrar que é ativo e reage aos confortos da vida moderna de forma ativa. Pesquisas científicas mostram que pai e mãe sedentários levam à chance quatro vezes maior da criança ser sedentária. Mas, não é preciso ser atleta para servir de exemplo aos filhos.

Alô Bebê - Como o senhor educa seus filhos quanto à prática esportiva?

Turíbio Leite de Barros Neto - Tenho seis filhos e todos se desenvolveram muito bem, sem problemas. Os meninos sempre foram muito ativos, praticaram esportes e ainda hoje jogam futebol com regularidade. As meninas praticaram natação e até ginástica olímpica, mas sem objetivo competitivos. Não são sedentárias.

Alô Bebê - O que dizer sobre meia dúzia de filhos? É um bom número?

Turíbio Leite de Barros Neto - O complicado não é o número, mas especialmente lidar com a vulnerabilidade do adolescente. Sou de outra geração e a mudança de costumes foi muito grande. Hoje a relação entre pais e filhos mudou, não se consegue impor mais nada. A minha preocupação maior é com a violência, a exposição dos filhos a ambientes agressivos e sem segurança. Quanto à qualidade de vida no que diz respeito à alimentação e atividade física, acho que a mensagem ficou, todos sempre buscaram essa prática.