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Início da vida escolar

 

Sempre há muitas dúvidas e incertezas em relação à idade ideal para colocar os pequenos filhos na escola - 5 meses? É muito pequeno. 1 ano? Quem sabe 2 anos e meio? Quando será que estarão preparados para ingressar na escola? É melhor que fiquem com a babá e amadureçam mais um pouco? E se ficarem a tarde inteira na frente da televisão, não seria muito pior? Seria melhor que desenvolvessem suas potencialidades orientadas por pessoas especializadas. Certo ou errado?

Alguns estudos e pesquisas demonstram que crianças com 3 anos já estão habilitadas a se alfabetizar com a ajuda de recursos da informática. Então, quando iniciar na escola?

Será que toda essa tecnologia da vida moderna efetivamente ajudará os pequenos seres humanos a aprender a se socializar, a brincar e a dividir os brinquedos com os amiguinhos? Como ajudá-los a desenvolver os princípios morais de respeito ao próximo e levá-los lentamente a abrir mão de seu natural egocentrismo, onde tudo é "MEU", para ir de encontro com a realidade do "outro"?

Meus caros pais, também já tive filhos pequenos, mas eram outros tempos. Hoje estou procurando lhes falar de minha preocupação como educadora e profissional que trabalha com crianças e famílias. Atenta a tantas mudanças, quero compartilhar meu ponto de vista, esperando gerar em cada um de vocês uma atitude de "pensar sobre" qual tipo de educação e que tipo de escola querem dar a seus filhos.

Minha opinião é de que a informática, os computadores e os jogos eletrônicos não substituirão de forma alguma a experiência e o contato "verdadeiro" e "vivo" com o amiguinho que se senta à mesma mesinha na escola e com o qual a criança aprende a dividir o lanche, o brinquedo e tantas outras situações. É muito importante não confundirmos duas linguagens tão diferentes, que não deverão se tornar incompatíveis ou excludentes, mas que, juntas, poderão enriquecer o dia a dia das crianças.

O contato com a realidade, com a outra criança, é uma experiência única que nenhum computador deverá substituir; a linguagem afetiva que se cria entre professores e alunos que estarão juntos contando estórias, cantando, brincando e adquirindo conhecimentos é capaz de gerar momentos de prazer e satisfação e facilitar o desenvolvimento de aspectos emocionais fundamentais para o crescimento saudável das crianças. O computador fala de uma outra linguagem.

A escola na primeira infância

Não existe idade ideal para iniciar a escolarização. O que deve ser considerado são as condições de organização familiar que envolvem, de um lado, as exigências da vida profissional dos pais e, de outro, a disponibilidade de parentes, amigos ou mesmo de uma babá a cujos cuidados se possa confiar a criança.

Assim, dependendo dessas circunstâncias, as crianças poderão frequentar berçários desde bem pequenos (4 ou 5 meses) ou em torno de dois e três anos, quando já desenvolveram algumas capacidades motoras e o uso da linguagem. Tomada a decisão de colocá-la na escola, os pais, juntamente com a criança, deverão se preparar para o período de adaptação.

A adaptação da criança à escola

Podemos dizer que a adaptação da criança à escola é um processo de elaboração pela criança da progressiva separação dos pais e consequentemente da conquista de uma crescente independência. Para ela, a adaptação à escola é um grande desafio; o desprendimento, a separação do que já é tão familiar, tão seguro e o início de uma ligação com algo tão novo e desconhecido, constitui ao mesmo tempo uma experiência agradável por um lado e, às vezes, tão ameaçadora por outro!

Há jogos e materiais atraentes, a presença de outras crianças da mesma idade com as quais terá que aprender a compartilhar espaços e materiais que são seus e ao mesmo tempo de todos; enfim, terá de enfrentar e aprender a lidar com conflitos e frustrações. Esse seguramente não é o lado mais agradável, mas é através dessas experiências que a criança vai se fortalecendo para enfrentar o mundo.

Como facilitar a adaptação da criança à escola

Nesse momento acho que seria bem interessante relatar dois exemplos. Fabiana foi uma filha muito esperada e quando nasceu já encontrou um irmãozinho com 5 anos de idade. Ao completar dois anos e meio, seus pais decidiram levá-la à escola pela primeira vez. Sua mãe preparou-a para o início da adaptação: comprou uma lancheira linda, um uniforme novo e sempre que possível conversava sobre a nova experiência que iria acontecer.

Finalmente chegou o grande dia. Muitas crianças, assim como a Fabiana, vieram acompanhadas de seus pais e eram convidadas e encorajadas pela professora a entrar na sala; algumas rapidamente entravam e buscavam algum jogo já conhecido; outras, agarradas a seus pais, observavam atentamente cada movimento, revelando ao mesmo tempo desejo de entrar e medo de se separar.

Diante da sala de aula, a mãe de Fabiana a segurava firmemente no colo, apontava para o interior da sala e dizia: - Olha quantas coisas interessantes, quantos amiguinhos! Vai brincar, Fabi - e seu corpo impassível continuava segurando a filha com tanta firmeza, que sugeria a mensagem contrária. A pequena, confusa, insegura, continuava no colo de sua mãe sem saber a qual das mensagens devia responder.

Pedro e Fábio, gêmeos de dois anos e 8 meses, experimentavam os primeiros dias de escola na ausência da mãe. Fábio aguentou até que desatou a chorar. As professoras se aproximaram carinhosamente, mas de nada adiantava. Num certo momento, Pedro, seu irmão, aproximou-se e perguntou:
- Por que você está chorando?
- É que estou com saudades da mamãe - respondeu Fábio.
Pedro abraça o irmão e diz:
- Não fica triste. A mamãe vai voltar para nos buscar.

Para que as crianças consigam com tranquilidade despedir-se dos pais não existe um tempo predeterminado. Há muitas variáveis que interferem na adaptação: a história anterior de cada um, o relacionamento com os pais, as experiências prévias da separação etc. Para algumas crianças, a separação pode gerar muita ansiedade, o que irá exigir um tempo mais longo da presença do pai ou da mãe.

Compete a eles tranquilizar o filho em relação ao início da vida escolar e, gradativamente, levá-los a transferir o vínculo de confiança para os novos adultos. Em geral, as crianças de dois a três anos de idade levam cerca de 5 a 12 dias com a presença de seus pais até que se complete a transferência.

Durante o período de adaptação à escola, pequenas alterações no sono, alimentação, eliminação e humor podem acontecer, e são normais. Sentimentos de insegurança, medo e abandono ao enfrentar situações novas também são reações esperadas.

Os pais que participam intensamente no início da vida escolar devem expressar confiança em seus pequenos filhos para que eles se sintam cada vez mais encorajados a vencer os desafios - sentindo-se confiantes, desenvolverão sentimentos positivos a respeito de si mesmas, podendo então transferir essa experiência para tantas outras situações.

Os pais mais inseguros ou dependentes terão que ficar muito atentos para não criar dificuldades na adaptação de seus filhos à escola, protegendo-os demais ou reforçando a ideia de um mundo assustador.

Boa sorte, pais...e coragem!

Dra. Monica Mlynarz