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Madrasta pode ser boadrasta

 

Antes do final feliz, Cinderela sofreu muito nas mãos da madrasta que tentou de todas as formas atrapalhar os seus planos. O estereótipo de madrasta má saiu dos contos de fadas e perdurou por anos, até que veio a mudança nas estruturas familiares, o número de divórcios aumentou, e consequentemente, a formação de famílias bem diferentes das de antigamente.

Um final de semana na casa da mãe outro na casa do pai. Os pequenos já crescem acostumados a essas regras, e também, tiveram que aprender a conviver e se afeiçoar com os novos companheiros de seus pais. Saber dividir a atenção, amar e respeitar são tarefas delicadas – e gratificantes – para ambos os lados.

As madrastas na vida real

O combate madrasta x enteado nunca aconteceu na vida de Juliana Meneghelli. Ela sempre teve um carinho muito especial com Ana Bosque Meneghelli. Prestes a completar cinco anos, a pequena aprendeu a conviver com a “boadrasta”, que sempre teve cuidado para não invadir seu espaço e nem criar rejeição. “No início a Mari tinha um
pouco de ciúmes, não gostava quando saíamos os três, nem de me ver muito perto do pai”, lembra Juliana.

A cautela é uma das indicações da psicóloga Cristiane Pertusi. A madrasta deve manter uma postura de respeito, observar as reações e as manifestações do enteado para depois agir, sempre respeitando os espaços e os papéis de cada um na dinâmica da família.

Um dos maiores erros das mulheres é querer ocupar o papel da mãe. “A madrasta não pode substituir a mãe, mas sim, construir uma relação com novos papéis e funções. Flexibilidade e afetividade podem servir de base para construção de um relacionamento verdadeiro e harmonioso”, recomenda a especialista.

Entre Juliana e Mariana a relação é exemplar, o ciúme não existe mais, e hoje a madrasta se preocupa com o bem estar da pequena. Mesmo não morando na mesma casa, elas se encontram pelo menos uma vez por semana, não por obrigatoriedade, mas porque Juliana sente saudades da enteada e a convida para passar a noite em sua casa.

Essa relação tranquila, natural e respeitosa se deve, em boa parte, ás atitudes encantadoras da pequena. “Ela já disse que me ama algumas vezes, a primeira vez me
surpreendeu, quase chorei”, lembra.

Papéis invertidos

Quando a madrasta já foi enteada, e passou por situações nada agradáveis, ela pode sentir vontade de fazer tudo diferente. Isso aconteceu com Roberta Palermo, terapeuta familiar e madrasta por 17 anos de Tiago e Julia, hoje 22 e 18 anos respectivamente, e mãe de Pedro de 11.

A relação com as crianças começou quando eles ainda eram pequenos, e sempre foi edificada pelo respeito, principalmente entre os pais, que estabeleceram regras de educação bem definidas. “As crianças repeitavam o meu papel na família. Tive uma madrasta que tinha muito ciúmes e isso causava sérios problemas”, recorda Roberta, que dentro da sua casa ajuda na educação dos enteados e já chegou a escrever três livros sobre o tema, entre eles, “100% Madrasta: quebrando as barreiras do preconceito”.

Segundo a terapeuta, uma situação corriqueira, é quando a criança vai comer e diz que a comida da mãe é melhor do que a da madrasta. “Nessa hora, a madrasta não pode perder o controle e dar uma resposta atravessada. Deve dizer apenas: ‘já soube que a mamãe cozinha muito bem!’”, sugere. Cabe ao pai conversar com os filhos e explicar o
quão indelicado é dizer isso. Dessa maneira os ajustes serão feitos.

Lidando com as crianças

 

De acordo com Censo Demográfico de 2010 mais de 2,5 milhões de famílias brasileiras têm filhos de apenas um dos cônjuges. Nesses casos, os adultos são a chave para que a família não sofra com esses conflitos. Segundo a doutora, é preciso dialogar e organizar muito bem o tempo, para que o filho não invada o da parceira e vice-versa.

“Ao iniciar uma relação, o pai ou a mãe com filhos precisa ter prudência e conversar claramente sobre o assunto, tanto com o cônjuge quanto com as crianças. É importante combinar regras claras sobre como serão os encontros e o respeito do tempo ao lado do filho”, recomenda a especialista.

Outro ponto que costuma tirar as noites de sono das madrastas é a relação do atual com a ex, mãe de seus filhos. Ciúmes à parte, o bom relacionamento entre os três
reflete diretamente no comportamento da criança. Juliana conta nunca ter tido problemas com a mãe de Mariana, pelo contrário, a cada dia as afinidades entre elas só aumentam.

No entanto, a boadrasta se coloca no seu lugar, e prefere não participar da educação da pequena, a não ser para ajudar nas tarefas de casa. “Para a alimentação sempre sigo as orientações da mãe. E, muito dificilmente dou broncas, prefiro que meu esposo tome a frente”, expõe. Juliana acha que as madrastas deveriam lembrar que um dia os papéis podem se inverter. “Toda mãe nesta situação quer que seu filho seja bem tratado”, completa.

Roberta acredita que a cobrança em cima da madrasta pode atrapalhar a relação com os enteados e também com a mãe deles. “É fundamental entender que mãe, a criança já tem, e a madrasta chega para somar, não para assumir a responsabilidade de criar”, opina.

Para aquelas que ainda não encontraram o caminho, Dra. Cristina sugere um acompanhamento psicológico. “Muitas vezes é preciso ajudar a própria madrasta a se fortalecer e buscar atitudes mais adequadas para o conflito que está lidando”, finaliza.