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Parto normal ou cesariana?


Durante a gravidez a futura mamãe já se preocupa será parto normal ou cesariana. Mas é muito importante que durante os 9 meses ela busque informações sobre os dois métodos e também converse bastante com seu médico para tirar as dúvidas e espantar alguns medos que às vezes são bem comuns nesse período.

Mas atualmente é registrado um aumento do número de cesarianas, e isso não é só no Brasil, é um fato mundial e deve-se sobretudo ao avanço tecnológico, facilitador de um diagnóstico tão acurado das condições da criança no útero que, em alguns casos (em centros mais avançados), é possível até mesmo curar certas doenças fetais.

Se antes o feto já se sentia protegido e à vontade em seu elemento, o ventre materno, hoje ele está ainda mais cercado de cuidados, e quase se pode dizer que sua saúde estará garantida ao nascer. Mas essas técnicas inovadoras não justificam, por elas mesmas, o excessivo número de cesarianas no Brasil.

A afirmação é do médico especialista em ginecologia e obstetrícia Dr. Pedro Paulo R. Monteleone, presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CRM): "As novas técnicas levam a um aumento das cesarianas de 10 a 20 por cento, em geral, mas há regiões no Brasil em que esse índice atinge 80 por cento dos partos, um absurdo", reprova o professor aposentado da Escola Paulista de Medicina.

A análise dos dados revela: A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que apenas 15% do partos sejam cesarianas, mas segundo dados do Sistema de Informações de Nascidos Vivos (Sinasc) no Brasil, cerca de 39% dos partos são cesarianas e em todos os estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste esse índice é superior a 40%, os dados são referentes ao ano de 2002.

O "trauma" do parto normal

As razões para esse aumento desproporcional no número de partos cirúrgicos são históricas, e a imprensa teve seu papel nisso. A partir do final da década de 60, a introdução da ultrassonografia tornou a cesariana mais segura para a mãe e a criança. Além disso, as mudanças de comportamento incentivadas pela Revolução Sexual e o Movimento Feminista geraram mulheres mais ativas e exigentes.

Era comum lermos, em grandes reportagens de jornais e revistas, declarações em que as mães testemunhavam a favor da cesariana, dizendo que seu filho nasceria numa data que lhe seria conveniente, não haveria correrias, a criança nasceria sem o "trauma" do parto normal etc.

A essa visão algo distorcida dos fatos veio aliar-se a conveniência dos médicos: um trabalho de parto normal pode tomar de 4 a 8 horas (e às vezes mais) do tempo deles, enquanto numa cesariana, em condições normais, tudo se resolve em pouco mais de uma hora.

Assim, como diz a expressão popular, uniu-se o útil ao agradável, e foram criadas as condições para que a cesariana sem indicação precisa predominasse.

Insegurança e desgaste dos médicos

Todos sabemos das más condições da saúde no Brasil. Volta e meia assistimos nos telejornais a reportagens que mostram o péssimo atendimento dispensado à população. No que se refere à assistência obstétrica, essa situação reflete principalmente duas coisas: as deficiências na formação dos médicos (por sua vez, consequência direta do descaso votado há décadas à educação) e a má remuneração desses profissionais.

Isto resultou, por um lado, em médicos inseguros quanto aos procedimentos mais simples do parto normal e, por outro, desgastados por serem forçados a ter diversas atividades, alguns trabalham em três ou mais locais, a fim de garantirem sua subsistência.

Em resumo, mais lenha para a fogueira para discussão se o melhor método é parto normal ou cesariana, no qual a cesárea se sai melhor: mais rápida, e em termos, mais segura. "Quando as coisas não vão bem num parto normal, a família chega e diz: "Se tivesse sido feita cesariana...", explica o dr.Monteleone. "Agora, se acontece alguma coisa com a criança nascida de cesariana, a família já não culpa tanto o médico, e diz: "O médico fez de tudo, até cesárea...", completa, revelando que mais esse elemento de pressão sobre o médico tende apenas a tornar o parto cirúrgico ainda mais comum do que já é.

Quando fazer a cesariana

Em que pesem as técnicas avançadas - a nova anestesia para o parto normal, que atenua as dores das contrações, para citar uma delas - a verdade é que, na assistência obstétrica, a maior novidade continua sendo o ultrassom, cada vez mais sofisticado. Graças a ele e a um acompanhamento médico adequado, a mulher que entra em trabalho de parto precisará apenas de uma equipe de saúde bem preparada para assisti-la. Tudo isto possibilitará a correta indicação de se fazer ou não o parto cirúrgico, ou seja, a cesariana não deve ser decidida antes do trabalho de parto, a não ser que se verifiquem algumas indicações.

Indicações precisas para a realização da cesariana:

A posição da criança não é adequada (ao invés de ela estar de cabeça para baixo, está sentada).

  • Não houve boa dilatação do colo do útero.
  • A criança é muito grande.
  • A bacia da mãe é muito pequena, não dá passagem para a criança.
  • Durante o trabalho de parto, surge o sofrimento fetal (demora que pode causar falta de oxigenação), quando esperar o desenrolar do trabalho de parto pode ser prejudicial à saúde do bebê.
  • Descolamento prematuro da placenta (que ocasiona hemorragias e falta de oxigenação).
  • Encurtamento do cordão umbilical.
  • Mãe de primeiro filho idosa.
  • Eclâmpsia ou pré-eclâmpsia (acesso convulsivo da parturiente).
  • Insuficiência placentária.
  • Sensibilização do feto pelo fator Rh.

O pré-natal

Embora durante o pré-natal não se tenha, na grande maioria dos casos, a indicação de que será parto normal ou cesariana, em algumas situações é possível saber de antemão o que será mais conveniente. Dessas situações, as mais comuns são quando a mãe sofre de pressão alta ou é diabética, condições em que a cesariana será obrigatória. Fora destas e das antes descritas, no entanto, o correto é esperar o início do trabalho de parto e aguardar sua evolução. Se tudo correr bem, não há motivo para realizar a cesariana.

Transformar gratuitamente (isto é, sem indicações precisas) um ato fisiológico, o parto normal, em ato operatório, parto cirúrgico, traz muitas desvantagens para a mulher. Entre elas, destacamos a possibilidade da chamada infecção puerperal ou pós-parto, 30 a 40 vezes maior numa cesariana que no parto normal.

"Procurar outra opinião"

Para todas as mães, o conselho do Dr. Monteleone, baseado em seus 34 anos de experiência em ginecologia e obstetrícia, é categórico: "A gestante deve, durante o pré-natal, conversar sobre a dinâmica do parto com o médico, procurando desfazer dúvidas. Se o médico indicar a cesárea e ela não ficar muito convencida disso, ela deve procurar outra opinião", recomenda. "Toda mulher deve procurar ter um parto normal ou pelo menos entrar em trabalho de parto e tentar; se não for possível, a operação cesariana não é um insucesso, é a resolução do problema."

"O que não é aconselhável é fazer uma cesariana sem que haja necessidade", arremata. Para além de todas as discussões a respeito, o fundamental é que a mamãe e o bebê desfrutem de toda as informações e infraestrutura necessárias para que possam, uma continuar e o outro nascer saudável. Somente assim "parto" deixará de ser sinônimo de coisa difícil e passará a ser visto como deve ser: um fato normal da vida.

Parto normal ou cesariana - veja a comparação

Parto Normal Cesariana
A recuperação é rápida A recuperação é lenta
Não há dor pós-parto Há dor pós-parto
Rápida recuperação deixa a mãe
mais tranquila, o que favorece a lactação
A recuperação lenta atrasa um pouco a lactação
A alta é mais rápida, o que
possibilita à mãe retomar seus afazeres prontamente         
A alta demora mais, o que causa atrasos na retomada de suas atividades
A cada parto normal, o trabalho
de parto é mais fácil do que no anterior                                
A cada cesariana, o trabalho de parto é mais complicado do que no anterior
Se a mulher vir a sofrer de mioma (patologia comum do útero), na eventual necessidade de uma operação, esta será mais fácil A operação do mioma, neste caso, se complica devido às aderências e às cirurgias anteriores
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