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Tempos modernos e a saúde infantil

 

O desenvolvimento industrial e o aumento na urbanização trouxe inúmeros benefícios para a sociedade moderna, por outro lado trouxe também uma vida mais sedentária, recoberta de facilidades, além de grandes mudanças no padrão alimentar.

A informatização e o avanço tecnológico, as longas jornadas de trabalho, a redução na atividade física, as refeições rápidas geraram mudanças no estilo de vida e trouxeram um aumento nos casos de obesidade e suas co-morbidades, como dislipidemias, hipertensão, doenças cardiovasculares e diabetes, tanto em adultos como em crianças trazendo grande impacto na economia dos países.

Nas últimas duas décadas, a prevalência de obesidade em crianças, adolescentes e adultos aumentou de forma assustadora e desde a década de 80 no Brasil vários estudos revelam que as prevalências de obesidade e sobrepeso em crianças e adolescentes superam da desnutrição.

Diante desse cenário preocupante e que necessita de medidas preventivas, é na infância que podemos modificar esse quadro. A Academia Americana de Pediatria em julho de 2008 propôs cuidados para o controle de dislipidemias na infância, como por exemplo, medidas populacionais incentivando dieta saudável com redução de gorduras a partir de 2 anos de idade.

Propõe ainda dosagem de colesterol total e frações (a partir de 2 anos de idade) além de triglicérides em todas as crianças e adolescentes com história familiar positiva de dislipidemia ou doença cardiovascular precoce (< 55 anos no homem e < 65 anos na mulher), quando a história familiar não é conhecida, e em pacientes com sobrepeso, obesidade, hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus e tabagistas, recomendando repetir as dosagens em 3-5 anos caso os valores não sejam normais. Nesses casos a perda de peso é o primeiro passo para o tratamento com dieta equilibrada e aumento da atividade física.

Desse modo, as crianças devem desde tenra idade receber dieta saudável, começando no útero da mãe, que deve receber uma alimentação balanceada para não prejudicar a saúde de ambos. A seguir o aleitamento materno, importante na prevenção da obesidade, exclusivo até os 6 meses de idade e mantido até 2 anos de idade ou mais.

É importante lembrar que diante da impossibilidade do aleitamento materno, deve-se procurar a orientação do Pediatra, para a definição de uma Fórmula Infantil, pois conforme recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria, o leite de vaca integral não é um alimento apropriado para crianças menores de um ano.

Para as crianças em uso de fórmulas infantis, a introdução de alimentos não lácteos poderá seguir o mesmo preconizado para aquelas em aleitamento materno exclusivo (a partir dos seis meses), estimulando-se sempre o consumo diário de frutas, verduras e legumes, evitando-se o açúcar, frituras, gorduras, refrigerantes, doces, salgadinhos e guloseimas, além do uso moderado do sal. Essas orientações alimentares devem ser respeitadas por toda a família, já que compete aos pais o exemplo de uma boa alimentação.

A família deve se alimentar bem. As crianças comem o que os pais comem. Não é possível incentivar uma alimentação saudável só para a criança. Além dos pais, é necessário a conscientização dos familiares mais próximos, para que possamos ter uma verdadeira mudança na alimentação e no estilo de vida, devendo os pais acompanharem de perto a alimentação, os exames e os tratamentos.

Juntamente com a família, a sociedade e a escola tem um papel muito importante, já que a escola tem como função educar, proporcionando no ambiente escolar oportunidades para incentivar uma alimentação e uma vida saudável, além da prática esportiva bem aplicada.

A merenda deve conter alimentos saudáveis e de bom valor nutricional, idealmente não dispondo de frituras, gorduras, refrigerantes, salgadinhos, bolachas recheadas, chocolates, sempre atentando para as quantidades para que não comprometa a aceitação das refeições posteriores.

A prática esportiva regular deve ser sempre incentivada pelos pais, família, escola e sociedade reduzindo a ociosidade das crianças especialmente na televisão e computador, como fator de prevenção das co-morbidades relacionadas com a obesidade e até mesmo como coadjuvante no tratamento dessas patologias.

Aos governantes, pais, escola e sociedade o momento de mudarmos a vida dessas crianças é agora para que não tenhamos muito em breve uma geração de obesos, com alta prevalência de doenças devastadoras.

Dra. Mariana Franceschini Falavina Grigoletto
Pediatra